segunda-feira, maio 30, 2005

O Trolha de Portugal

A manhã é a altura mais sossegada aqui no nosso estabelecimento. Olha-se a televisão, entre febras, tripas, pica-paus e moelas por cozinhar.
Você na TV é um desses programas matutinos que agridem as íris dos mais incautos telespectadores. É Manuel Luís Goucha o festeiro-mor de tudo aquilo. A mais recente rubrica é "O Trolha de Portugal", com tudo quanto é Zé, Manel, e Miquelino a apresentar-se de colher e talocha a enviar piropos ás portuguesas de Portugal, da Europa e quiçá do Mundo. Particularmente interessante é aquela parte em que um deles, possivelmente o Rica de Montemor ou o João António de Vila Real decide dizer que oscula com aspiração integrada os dispositivos insufláveis para segurança automóvel das respeitáveis senhoras que assistem ao programa.
Hás-de ganhar muito. As velhinhas querem dar-te beijinhos no bigode. Hás-de ser o Trolha. Pois Trolha, Trolha de Portugal.

terça-feira, maio 24, 2005

Mau ganhar

Domingo à noite, aqui na nossa tasca, entraram quatro ou cinco tipos vestidos de vermelho que decidiram espatifar tudo. Os mesmos que disseram que esta merda era toda deles, e que determinadas pessoas afectas aos clubes adversários deveriam ir para um qualquer órgão sexual masculino.
É possível ganhar sem agredir, é possível festejar sem partir tudo porque se está ébrio.

Glória aos campeões civilizados.

quinta-feira, maio 19, 2005

Relatório Zezinho

Olá! Eu sou o Zezinho e o meu pai diz que o mal deste país é que ninguém quer trabalhar e só quer mandriar. O meu pai diz que se os malandros dos deputados não ganhassem tanto como ganham, este país não estava como está e que as pessoas viviam melhor. Dantes, há muito tempo, comprava-se um pão a dois e quinhentos, mas agora é mais caro, a culpa é do Euro. Eu também sou do tempo em que um Epá, que é um gelado de leite e não é de água e por isso não faz mal à saúde e é melhor para as crianças custava só oitenta cêntimos e agora é uma roubalheira, não se admite, a chicla é muito mais pequena e basta de nos atacarem a qualidade de vida. Se eu mandasse, o PIB subia e o Déficit Orçamental baixava e os impostos também, porque isso foi o que o meu pai que ensinou, porque eu não sei bem o que é o PIB, mas sei que se subir é melhor para toda a gente. Também não faz mal, porque o meu pai disse que um senhor importante um dia disse que isso do PIB era... três vezes nove, e o do ano passado... é só fazer as contas.

Eu bem queria chupa-chupas, mas o meu pai disse que neste país, enquanto não tivermos um imposto sobre a coçagem de micoses, nem a saúde pública nem as contas do Estado endireitam.

sexta-feira, maio 13, 2005

Consagração da Numerologia a D. Serafim Ferreira no 13 de Maio

Tivemos hoje a visita do Reverendíssimo D. Serafim Ferreira. Ao entrar, vendo o calendário Pirelli com a imagem da Senhora de Fátima ao lado, não hesitou: "Entro em lugar sagrado, não me farei rogado, uma água com gás se faz favor, tenho aqui no estômago uma dor".

Iniciou depois a sua divina contagem. Olhou para o relógio e eram 17:32. Treze somados. Somou o número de bolos na vitrine com o número de cervejas vazias ao balcão. 8+5=13. Perguntou "Têm tremoços?". Respondemos "Claro, reverência temos lote 2, lote 5 e lote 6, não temos dos lotes 1, 3 nem 9. Duas vezes treze, impecável. Os serafins do céu rejubilavam de alegria. Bebou a sua água, comeu o seu tremoço, arrotou uma vez, tossiu quatro por causa da atrapalhação no gasganete provocada pela casca da leguminosa, deu sete pancadinhas no chão com o pé, e antes de proceder ao pagamento da despesa efectuada, libertou com sonoro trovão um monumental gás acumulado nas suas tripas. Vá lá, não cheirava. Outra vez treze, para quem não reparou. "Quanto é se faz favor?" "Dois euros e meio reverência, moeda antiga, quinhentos paus". "Faça favor, pague-se desta nota de dez euros, mas espere aí que tenho aqui mais três se não se importa, e já agora, dê-me treze cêntimos de troco que o resto é gorjeta pela simpatia". "Sim senhor, cá estão" Saiu, deu graças, subiu cinco degraus com cinco passos, deu mais oito acelerados e ao nono pisou uma libertada acumulação de fezes caninas no lajedo do passeio. Valente queda, claro está, treze galos na cabeça porque fez questão de bater com a cabeça no chão mais doze.

Para um homem que tem um estilo de vida verdadeiramente alternativo, treze palavras: Os números consagrados a Serafim... oh pá deixa-te disso e come mais pudim.

quinta-feira, maio 12, 2005

Volta, estás perdoado

O Ivo veio cá com o Cândido, habitual frequentador desta tasca. Cândido, compulsivo desafiador das autoridades do Estado Novo consumia com frequência Coca-colas à socapa no espaço interior propriedade da firma Silva, Carvalho, Lopes e Irmãos (pela primeira vez, registe-se, temos um nome atribuído à sociedade proprietária da nossa tasca).
Detido pela Polícia Política por consumo de bebidas ilegais em estabelecimento público, Ivo limita-se a seguir os passos gloriosos do seu pai. Provocador, foi fumar umas ganzas para o Dubai. Fez bem. No país dele, que é Portugal pode ter-se 2 g de ganza no bolso e o consumo dela é ... tolerado. O pai até podia desafiar a autoridade, o Ivo pensava que estava em casa.

'Tá tudo bem.

quarta-feira, maio 11, 2005

Os amigos são para as ocasiões

Esopo e La Fontaine efabulavam sobre animais, em relatos cheios de conteúdo moralizador. Sem querermos atrever-nos a rivalizar com estes dinossauros do animismo, reproduzimos aqui esta história encontrada entre dejectos de rola, na última limpeza dos algerozes do edifício que nos serve de sede.

"Era uma vez um país chamado Portugal, habitado por criaturas tão diversas como a raposa, o lobo, o bode e o pavão. Um homem, indivíduo de uma espécie bem adaptada, que dominou o país desde que este nasceu e mesmo antes disso, era pigmeu. Era pigmeu e ninguém falava dele. Ninguém falava dele e resolveu recorrer aos animais para começarem a falar dele. Dizia ele: Sou pigmeu/sou pequenino/faço o que me apetece/oh pa vais ver se eu não domino. Então chamou o pavão, a raposa, o bode e o pavão a irem falar com ele. Quer dizer, ele antes convidou a raposa para ser amiga dele. Então, agora sim, chamou o pavão. Ao pavão disse-lhe: olha, tu tens penas grandes, és bonito e as pavoas gostam de ti, mas eu não gosto de animais como tu, mostram as penas, mas só sabem fazer isso, e voar não é contigo. Por isso, não te deixo subir mais aos telhados. Já tiveste oportunidades a mais. Depois, chamou o bode e disse-lhe: tu tens pêra, gostas de cabras, ainda por cima, tens o sustento nas montanhas, mas eu não gosto de ti, nem que digas que o sustento que tens nas montanhas é de um sobrinho teu. Depois, chamou o lobo e disse: quiseste comer o Pedro da história, meu sujo. Quiseste dar um bocadinho ao teu filho, ah? Basta. Depois, chamou a raposa e deixou-a comer as uvas..."

terça-feira, maio 10, 2005

Zé e as pitas

O Zé entrou na tasca, com um grande sorriso e rubor no seio facial esquerdo.

Acabava de apalpar veementemente uma pita lisbonense.

Ela passava, rabo pululante de juventude, chamativo pelo atilho que trazia nos bolsos de trás. O Zé lançou da manápula, fê-la subir e com a leveza própria de um prestador de serviços da construção civil, tocou com decisão os glúteos da jovem. Seguidamente, contraiu ligeiramente os músculos do braço, principais responsáveis pelo movimento dos ossos e articulações da mão provocando uma sensação ambígua, roçando o prazer e o desgosto da juvenil fêmea. Ela riu-se, virou-se para trás e enfiou-lhe um monumental tabefe. Mas o Zé recebe-o com um sorriso, aliás, com gosto, aliás, com prazer.

Não conseguimos viver sem elas. Pita, você é mais que mulher objecto. Você é icone civilizacional.

quinta-feira, maio 05, 2005

A medalha do Paulinho

O Paulinho recebeu uma medalha por mandar tropinhas de plástico da GNR para o Iraque. Também, as primeiras brincadeiras para esta guerra a brincar foram na casa do menino Paulinho, nos Açores.

O Paulinho sabe brincar. Yo.

Ele já não brinca mais, mas é pena que sejam sempre os mesmos a perder.

quarta-feira, maio 04, 2005

A nossa ameaça para a China

Primeiro, foi o papel e toda a gente começou a escrever nas folhas que eles inventaram.
Depois a pólvora, que eles também inventaram.
A massa, a porcelana, a sopa de ninho de andorinha.
Agora são as t-shirts, os pijamas, a roupa de menino e de menina.
Os carros.

Temos que acreditar. Em vez de exportar produtos, temos que exportar formas de viver e algumas pessoas para a China. O laxismo, a melancolia, o stress por tudo e por nada, o excesso de velocidade nas estradas, o pessismo, a malcriadez, a inveja, o João Pinto a dar murros ao árbitro quando estamos a perder, o Major Valentim Loureiro e o José Castelo Branco, o Vasco Pulido Valente, o Santana Lopes e o Francisco Sarsfield Cabral, o Ferro Rodrigues, a "Associação de Amigos das Corridas Nocturnas de Veículos Automóveis na Ponte Vasco da Gama".

Já chega de lhes querer tanto mal. Viva a China.

Ah. Mandem também o Rui Santos para fazer comentários da bola.