sexta-feira, dezembro 31, 2004

Ser cabeça

O Lopes chegou ao balcão, macambúzio... "Estou cá com uma cabeça!"
As cabeças de alho, penduradas na cozinha, exalavam seu cheiro costumeiro.
A lista telefónica, bem por baixo do contador de impulso atraía a gordura do ar, dos fritos e do oleoso cabelo do Arnaldinho, o bêbado.
Foi assim que chegou a conversa sobre os cabeças de lista.
Sabendo nós que uma lista é uma relação de eventos, actos, factos, pessoas, coisas, animais, filmes, cores, vestuário, cidades, plantas (olha o jogo das palavras!) e que uma cabeça é, a princípio um apêndice apical de um ser vivo ou não vivo (conhecem-se a Cabeça do Velho e a Cabeça da Velha, na Serra da Estrela, e os cravos-de-cabecinha), um cabeça de lista estará na ponta da lista.

Ser cabeça de lista é porém, muito mais que isso. Ser cabeça de lista é um estado de alma, é acreditar que se tem uma legião de indivíduos que o seguem (o segundo, o terceiro, o quarto, às vezes o décimo quinto chateia-se por não ser eleito), é renunciar às suas origens e ir para qualquer lado dizer que se tem raízes no Alentejo quando em pequenino se trocava os vs pelos bs ou ser lisboeta de gema e achar que Bragança sempre mereceu uma Universidade, que devia até ter sido fundada antes de Coimbra. Ser cabeça de lista é ser polivalente, é jogar em 4-3-3 elástico, que facilmente se converte em 9-1, e por isso é que é elastico. Ser cabeça de lista é ter um dom, é ter uma varinha de condão, tipo Harry-Potter e andar de vassoura pelos ares a distribuir papeizinhos, em todo um círculo eleitoral com "feitiçarias, encantamentos e poções para de um momento para o outro, o senhor, que é reformado, receber três pensões".

Cá na tasca, já escolhemos. Só votaremos em alguém quando a lista só tiver uma cabeça e o pessoal daqui de perto puder votar nela. E se for uma mulher bonita... Mas vai demorar. Cá ficamos com estas cabeças.


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