sábado, setembro 10, 2005

Podiam ser enjoos

Uma mulher grávida é um poço de surpresas, já sabemos. Uma mulher grávida com a mania que é especial, não é um poço de surpresas, é um poço de comédia assaz hilariante.

Ora, há dias vieram duas senhoras aqui à tasca. Uma delas, grávida de 6, 7, ou 8 meses, abarbatou por completo uma caixa de torrões de amendoim, vulgar "nougat" ou seu sucedâneo. Não importou o preço. Até aqui tudo normal.

Interessante foi perceber que a bebé tinha tendências karatecas. Cinturão pré-dodot. Não eram os vulgares pontapés na barriga que levam os pais a afirmar com toda a propriedade que "o meu pilas vai dar craque". Dantes é que era, ficava tudo em grande suspense até ao fim, fosse menino ou menina levava com a cor que calhasse no papel de parede do quarto novo. Pois, mas a nossa pré-dodot biqueirava valentemente o ventre materno. O insólito era que sempre que o pai chegava, tinha para com a mãe palavras de carinho, "festinhas e miminhos na barriga", que acalmavam a criança. Espectáculo. O pai podia ter perpetrado a maior traição matrimonial dos tempos recentes, mas aquele gesto, aquela voz que a menina reconhecia (compatibilidade com sistema bluetooth, ou placas de wireless) era a do pai, aquilo era esotérico.

É evidente. Um tipo habitua-se a uma situação. O homem chega, fala e a mãe sossega. Se eu fosse bebé e a minha mãe parasse o esfalfanço diário também sossegava, não sei é se isso tinha alguma coisa a ver com o meu pai nem com alguém que fala e faz festinhas. E se fosse o Piruças a ladrar? Um dia destes há-de reconhecer o cão, a avó, quem sabe, o pássaro do vizinho.

Se uma grávida fosse só enjoos, as coisas eram muito menos interessantes.

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